Sexta mulherzinha

Em um prédio modernista da Glória, com vista para o Aterro, aconteceu um almoço entre amigas; mulheres de 30 anos que davam um passo definitivo na contextualização de um mundo adulto. Entre bebês já nascidos e os ainda sonhados, entre as amigas casadas e as solteiras, havia um laço que desenhava as diferentes opções de cada uma: a vida profissional é uma preocupação para todas. Mas há outras questões... Uma das amigas solteiras lançou o problema: tinha 31 e estava interessada em um colega de classe de 25. Outra amiga de 31 anos disse que faria 32 em dois meses e que, mesmo assim, aceitou sair com o cara de 23 anos que conheceu há 2 semanas - só precisava entregar um trabalho antes para ter cabeça para aquela nova história. Observei o diálogo delas e percebi com estranhamento que aquilo realmente pudesse ser uma questão em um mundo adulto. Elas tinham 15 anos e estavam vestidas de 31! É a imagem mais assombrada que vi nos últimos tempos...O termo assombrada me fez lembrar que ainda tinha que ler sobre essa passagem do Benjamin e voltei para casa, fugindo da quarta garrafa de vinho e uma tarde que viraria noite adentro.
Pagar contas e criar mais contas para pagar em um fluxo que possa dar prazer a quem tem esse estilo de vida maluco (ou seja, todo mundo) - essa é a vida burguesa que lutamos para ter ou manter... No meio tempo, obras de arte! Nada é mais burguês do que se entreter com obras de arte quando não está multiplicando capital... O anti burguês se derrete diante da obra, fica ali fundido e fudido com ela. Hehehee, não é pro cardápio do dia a dia de qualquer um. No fundo, a percepção sobre a obra é mesmo uma bobagem. Nada é mais significativo do que a verdade de cada uma (entre designers e filósofas) sendo respeitada e valorizada na tarde mais feminina, divertida, charmosa e com comidas gostosas dos últimos tempos.

Comentários

Unknown disse…
Adorei! É isso mesmo. Entre sermos adultas, consumir, e ainda gostar de arte, há felizmente o espaço gostoso de uma frivolidade mais simples, mais terrena, mais normal, que consola em meio a tanta complexidade.
Anônimo disse…
Carmen, tá muito bem escrito, adorei o estilo mini-crônica...
Obrigada, Ana! Escrevi considerando sua dica sobre mini crônicas e sobre o conceito de pijama - o cotidiano é mesmo a nossa matéria prima original...

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