Sintoma

Todas as vezes em que Carlos ia ao psicólogo (e estamos falando de 3 sessões por semana), passava em uma loja muito tradicional de queijos. Infelizmente, ele tinha que evitar derivados de leite e nunca os experimentou, ainda que levasse sempre uma novidade para Lia.

Lia e Carlos eram namorados desde a oitava série e amigos desde a quarta. Casaram quando terminaram a faculdade de Administração. Sempre moraram em uma vila pequena, um bairro afastado do centro, e trabalhavam com os negócios da família que se concretizavam nos limites do pequeno núcleo de vizinhos.

Era sábado e a noite prometia. Foram pra festa oferecida por amigos cujas famílias já se conheciam há décadas. O ambiente era de total conforto entre todos. Para quem quer que Carlos e Lia olhassem, podiam reconhecer um traço que lhes dizia o sobrenome.

Em dado momento, um senhor que poderia, em idade, ser o pai de Carlos, perguntou-lhe por que ia ao psicólogo tantas vezes. Carlos não quis entrar em detalhes, mas explicou que durante o período da faculdade ficou muito ansioso, a ponto de perder o sono e quis resolver seus fantasmas. Garantiu que dormia muito bem e que não deixava de freqüentar porque sua ansiedade ainda lhe atrapalhava quando tinha prazos muito apertados.

À 00:40 de domingo Carlos e Lia estavam no carro, voltando para casa. Um cruzamento mal sinalizado e um terrível acidente.  Lia morreu.


(Leitor/a: Temos dois finais. Por favor, releia o parágrafo anterior e siga para o abaixo. Depois, leia o anterior e siga direto para o último.  Achei os dois trágicos no mau sentido e não gosto deles - o que significa que inserir esse papo metapost é minha estratégia pra sair daquelas trevas. Assim, este é o parágrafo final, ok?)



Final 1: As idas ao psicólogo pararam de acontecer.


Final 2: Como perdeu interesse pela vida, Carlos deixou de ficar ansioso e a pequena vila viu um homem definhar.

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