Marilena Soneghet sobre o Hell de Janeiro - o noir bronzeado



Hell de Janeiro - O noir bronzeado

(uma resenha para Carmem – por marilena soneghet)

Editado pela Ed. Multifoco – RJ - 2011, o livro “Hell de Janeiro – O noir bronzeado” – de autoria de Carmem Filgueiras é um livro intrigante, instigante... a começar pelo título misturando três idiomas: hell – inferno em inglês, cuja pronúncia lembra uma corruptela de “rio”, no caso... “de Janeiro”, e o conhecido termo francês “noir”, numa referência procedente aos ambientes e acontecimentos (alguns sinistros) que permeiam o livro. E aí entra um bem humorado “bronzeado” – bem carioca, que lhe confere uma certa ginga inusitada.

Escrito em treze capítulos, a gente fica na dúvida se é uma novela onde a sequência entre um e outro capítulo não segue uma lógica ortodoxa, ou se são treze contos que acabam se entrelaçando pelo clima, um discreto mistério, personagens que vão e vem sorrateiramente - e é esse ressurgimento que dá unidade e pincela o mistério.


Quem conta as histórias – em terceira pessoa - convive numa boa com o mundo intelectual, circula pelo mundo da moda, conhece os bastidores do teatro, freqüenta festinhas onde rola algo mais que um prosecco, assiste com certa nonchalance à desova de um corpo dentro de um saco preto, escreve teses acadêmicas, lê Nietzsche, Baudelaire, Zaratrusta, indecisa-se ante um ela(e) de saiote dourado, sapatos de bico fino, esconde/mostra veladas críticas à mesma sociedade que freqüenta.


E quem é que conta as histórias? é a tal que se apresenta como Carmem Judiths (uma das poucas personagens do livro que “fala” em primeira pessoa (?) ou a coincidência do nome é um "alteregozinho". Sei lá! Só sei que quem conta as histórias é com certeza um observador(a) inteligente, cujo olhar penetra o âmago, denuncia veleidades, põe a nu as fraquezas, realça contrastes. E tem um faro fino.


A autora, que também se chama Carmem (mas que eu acho não tem nada a ver com a tal Carmem Judiths) com seu jeito único de escrever, mostra um aprofundamento raro em pessoa tão jovem; narra com desenvoltura história bizarras com boa dose de ironia crítica, mas não julga seus personagens. Seu estilo é direto, enxuto,sem firulas, moderno.


Ao longo da leitura diverti-me a sublinhar frases e conceitos de deliciosa ironia, humor, malícia... e outras contendo citações que além de denunciar erudição, evidenciam seu modo singular da analisar o mundo. Pensei em transcrevê-las aqui, nesta resenha, mas são tantas e tantas que teria que copiar metade do livro. Portanto...

...leiam Hell de Janeiro para como eu, deliciar-se com o noir bronzeado de situações, personagens e descrições ímpares.

Parabéns, Carmem! Acho que você achou seu caminho! bjão de sua fã - Marilena


Comentários

Fernanda disse…
Boa Carmencita. Boa saber que o livro tá levantando vôo.
Obrigada, Nanda. Tenho o maior orgulho dessa resenha porque a Marilena Soneghet é uma escritora que eu respeito muito.

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